O prédio ocupado pelo Centro Cultural Banco do Brasil guarda inúmeras histórias cruzadas pelas vidas de milhares de pessoas. Ao longo dos séculos XIX, XX e XXI, muitas pessoas adentraram seus espaços por razões das mais variadas. A história do prédio carioca, especificamente, pode ser contada a partir dos seus diferentes usos e funções no centro da cidade.
Caminhe pelo saguão do cinema, próximo à entrada da avenida Presidente Vargas, até encontrar a rotunda do edifício: uma construção em forma circular, coberta por uma grande cúpula.
Não é difícil entender porque este é o local preferido do público do CCBB para tirar uma selfie.
Antes ou depois desse registro, experimente se posicionar bem no centro do espaço e explorar a sua acústica. Repare também nas figuras presentes nas luminárias douradas situadas em volta da rotunda: um rosto, uma haste com duas serpentes aladas, conhecida como caduceu, e mais alguns elementos decorativos. Você reconhece esses personagens? Esses adornos, que podem ser encontrados por toda a extensão vertical da rotunda, fazem referência a Hermes, deus do comércio na Grécia Antiga, ou ainda a Mercúrio, para os romanos.

Qual é a sua sensação sobre esse espaço? Você reparou que a famosa cúpula de vidro da rotunda não pode ser vista do lado de fora? Isso acontece porque ao longo do tempo o prédio foi crescendo e se modificando, até encontrar a forma que conhecemos hoje. Por conta disso, é comum que tenhamos uma impressão diferente sobre a quantidade de andares quando observamos a arquitetura do lado de fora e do lado de dentro.
Quantos andares você imagina ter nesse prédio?

O edifício foi construído no terreno que abrigou a Casa dos Contos do Rio de Janeiro, onde eram realizados os serviços contábeis e de fiscalização da Coroa. Agora que você já circulou ao redor da fachada do prédio, talvez se lembre de algumas das suas características. A arquitetura do edifício é eclética, ou seja, se caracteriza por uma mistura entre variados estilos arquitetônicos.
O projeto é de autoria do arquiteto Francisco Joaquim Béthencourt da Silva, importante figura na sociedade carioca entre os séculos XIX e XX. Filho de imigrantes portugueses, ele foi arquiteto, educador e escritor. No Rio de Janeiro, assinou outros projetos relevantes, como a Casa Imperial e o Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro.
Inaugurado em 1906, com dois andares, este edifício teve como primeira função abrigar a Associação do Comércio do Rio de Janeiro. Sob a mesma rotunda que vemos hoje, funcionava a Bolsa de Fundos Públicos. Algum tempo depois, a casa passou a ser chamada de Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, se destacando como uma das primeiras instituições financeiras instauradas no país. Atualmente, a instituição está ligada à Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo, uma das maiores bolsas de valores do mundo.
Foi somente em 1926, após anos ocupando um prédio na rua da Alfândega, que o Banco do Brasil se mudou para o edifício da rua Primeiro de Março, número 66, substituindo a Associação do Comércio. Naquela época, o edifício foi comprado e remodelado pelo Banco, com a intenção de torná-lo sua quarta sede. Mais tarde, outras reformas foram realizadas segundo as novas necessidades de uso – e a mais marcante delas aconteceu em 1934, quando três andares foram acrescentados à estrutura do edifício.
As reformas e a expansão do banco tornaram o prédio uma das mais emblemáticas construções financeiras do Brasil até o ano de 1960.
Foi nesse ano que aconteceu a transferência da sede do Banco do Brasil para a nova capital do país, Brasília. Naquela ocasião, o prédio foi ocupado pela agência central do Banco do Brasil do Rio de Janeiro. O edifício passou a funcionar com o nome de Agência Centro e, mais adiante, Agência Primeiro de Março.

No final dos anos 1980, resgatando o valor simbólico e arquitetônico do edifício, o Banco do Brasil decidiu convertê-lo em um centro cultural. Essa decisão transformou significativamente os fluxos e movimentações nesta parte da região central do Rio de Janeiro, a partir de então frequentada por pessoas que vivem nas mais diversas regiões da cidade, do país e do mundo.
Imagem de capa: Luminária de parede que apresenta elementos com referência ao deus grego Hermes, conhecido como Mercúrio na mitologia romana, no Centro Cultural do Banco do Brasil do Rio de Janeiro (detalhe). Foto: Divulgação CCBB.