Os vitrais nos despertam certo fascínio por suas cores e pela luminosidade que inevitavelmente atraem o olhar. Que tal percorrer com o olhar toda a extensão dos vitrais deste edifício, investigando seus detalhes sem pressa? Observe as cores e as texturas, as formas e os desenhos. Perceba ainda a composição dos elementos. Você sabe qual é a origem dos vitrais?
Sua história nos leva à Idade Média, quando eram usados para transmitir narrativas bíblicas numa época em que apenas uma pequena parte da população sabia ler.
A luminosidade dos vitrais trazia uma aura mística às narrativas, servindo como alusão ao mundo espiritual e à vida após a morte.
Toda essa história serve para pensarmos sobre o quanto a arquitetura eclética é capaz de reunir itens que poderiam parecer antagônicos. Por exemplo: no nosso vitral, ao invés de temas religiosos, encontramos referências que nos levam à mitologia grega.
Podemos ver, por exemplo, uma representação da deusa Diké, divindade que simboliza a justiça e os julgamentos. E ela é sempre vista assim: descalça, sem vendas nos olhos. Segundo a mitologia grega, ela observava as ações humanas e, sempre que havia alguma violação das leis, reportava diretamente a Zeus. Nas tragédias, Diké aparece como uma divindade que pune severamente aquele que estiver errado, zelando pela manutenção da justiça e atravessando o coração dos injustos com sua espada
Acima de sua cabeça, encontramos a palavra “Lei”, e ao redor de seu corpo, uma moldura de sementes de café, cujas extremidades trazem novamente a imagem de pequenas cabeças de leão.
Repare também nas duas águias situadas na parte inferior da imagem. Presentes em diversas representações, elas servem para reafirmar a vocação republicana da secretaria que funcionava no mesmo edifício. Por último, observe que no canto inferior direito do vitral encontramos o nome do ateliê responsável pela fabricação da peça: a Casa Conrado.
A Casa Conrado foi fundada em 1889, na cidade de São Paulo, pelo imigrante alemão Conrado Sorgenicht. Primeiro ateliê de vitrais do Brasil, estabeleceu parcerias relevantes com importantes empreendimentos em diferentes partes do país.
Conrado Sorgenicht era um primoroso artesão que ensinou seu complexo ofício aos próprios descendentes. Com a ascensão do estilo eclético, seus vitrais em estilo clássico ganharam espaço e tornaram-se uma grande atração aos olhos da burguesia. A Casa Conrado funcionou durante 100 anos sob o comando dos Sorgenicht, sendo responsável por mais de 600 trabalhos em todo o Brasil.
O que atrai o seu olhar neste vitral? Perceba os efeitos da luz sobre as texturas do vidro, e experimente registrar algum detalhe que chame sua atenção.
Imagem de capa: Vagner Costa