Como podemos perceber que algo está se transformando no tempo presente? Sabemos que tudo muda o tempo todo, mas em alguns momentos da história e de nossas vidas existem acontecimentos que são marcos de grandes processos de transformação.
Ao olharmos para o passado, podemos identificar que algumas mudanças políticas trouxeram consigo uma estética, ou seja, uma forma de apresentação visual com capacidade de representar seus valores e interesses. Este edifício pode ser lido como vestígio de uma estética eleita para afirmar uma nova identidade nacional. Seu estilo eclético demarcou o espírito republicano da cidade de Belo Horizonte, chamando atenção pela racionalidade e por afirmar o progresso e o poder econômico. Além disso, correspondia perfeitamente ao gosto e aos modismos de uma classe burguesa em ascensão.
O ecletismo caracteriza-se pela composição de diferentes estilos, fortemente baseada na recuperação de elementos do passado.
Em alguns momentos, se apropria de fontes tão variadas que recorrentemente produz soluções desvinculadas a um estilo específico. Os arquitetos tinham uma grande liberdade para eleger e copiar elementos que melhor representassem os interesses e gostos de sua clientela.
Embora vinculados a diferentes estilos, a maioria desses elementos arquitetônicos tem como origem comum a tradição europeia. Por exemplo, se observarmos na fachada do prédio as suntuosas colunas que atravessam três pavimentos. Posicionadas simetricamente, estas colunas e o próprio valor da simetria são influências recuperadas do estilo neoclássico.
Agora atente-se às portas, trabalhadas em ferro fundido. Os três gradis apresentam treliças e motivos fitomorfos, chamados assim por apresentarem estruturas semelhantes às das plantas. Os gradis trazem ainda alguns elementos em metal prateado e dourado, típicos do estilo art déco. Outros detalhes da composição do edifício também podem ser identificados: cabeças de leão em relevo, representando proteção, e, acima das duas janelas do terceiro pavimento, encontramos uma efígie, que é a figura de uma pessoa, provavelmente uma alegoria à Justiça, ladeada por flores e folhas.
Ao longo das décadas, a cidade se esforçou muito para demonstrar seu progresso e desenvolvimento a partir dessas e de outras escolhas estéticas. Muitas vezes, para tanto, demoliu e suprimiu elementos que já não mais lhe interessavam.
Se você pudesse copiar, recortar e colar elementos de diferentes épocas das cidades, quais valores você gostaria de representar na sua própria criação? Que transformações gostaria de promover?
Imagem de capa: CCBB Belo Horizonte/Divulgação