Você já ouviu falar sobre o triângulo? Bem, além de uma forma geométrica de três lados, o popular Triângulo pode ser reconhecido na cidade como Triângulo Histórico de São Paulo, região compreendida pelas ruas Quinze de Novembro, Direita e São Bento, no Centro Histórico de São Paulo. É nesse miolo da cidade que muita coisa acontece desde o início do século XX: foi aqui que surgiram lojas, escritórios, jornais, hotéis, cafés e confeitarias que deram um pouco da cara que São Paulo tem hoje.
Além disso, nesse trajeto se praticava o footing – palavra de origem inglesa usada para descrever, em um passado não tão distante, um antigo hábito brasileiro para a promoção de encontros. Entendido como uma caminhada pela cidade, observando o movimento das lojas, dos cafés, das livrarias, mas principalmente das pessoas, o footing era um andar descontraído realizado especialmente pela juventude urbana. Era um programa para a paquera e o encontro, com trocas de olhares e bilhetes que podiam se transformar em namoros, noivados e casamentos. Que tal “fazermos um footing” (como se dizia outrora) e caminharmos juntos enquanto compartilho alguns detalhes sobre a história de São Paulo e do seu Triângulo Histórico?
Durante essa visita, vamos fazer um pequeno, mas importante trajeto. Começaremos na entrada do CCBB, certo? Te espero lá.
Vamos começar nossa caminhada? Saia do CCBB e vire à esquerda, por onde começaremos uma volta no quarteirão. Nosso trajeto vai percorrer as atuais ruas da Quitanda, Quinze de Novembro, rua do Comércio e Álvares Penteado.
O Centro de São Paulo, onde estamos agora, foi por mais ou menos 300 anos toda a extensão da cidade. Dá para imaginar?
São Paulo – que hoje é uma das maiores cidades do mundo e a maior da América do Sul – já foi um pequeno aglomerado de casebres e ruazinhas. Aproveite para olhar pausadamente a esquina entre a rua da Quitanda e a Quinze de Novembro.
Naquele período, quase nada era como hoje. Não existiam muitas coisas que atualmente são comuns, como o rádio, a televisão, o carro e o telefone celular. Quer dizer: naquela época, nem mesmo essa nossa interação seria possível. As conversas eram sempre presenciais, e as mensagens eram geralmente trocadas por cartas que, dependendo da distância, poderiam levar meses para chegar ao destinatário.
Até meados do século XVIII, poucas pessoas moravam por aqui. O espaço entre o córrego do Anhangabaú e a várzea do Carmo, onde passa o rio Tamanduateí, compunha a paisagem de uma cidade simples, com casas baixas, feitas de barro, e chão batido. Esse era um local de passagem, com poucos comércios e pedestres. Dá para imaginar essa diferença? Acho que vale a pena você pausar nossa conversa por um instante, e ouvir a rua e seus sons.
O que mudou a ponto de transformar aquela pequena vila em uma metrópole?
Foi durante o século XIX que a realidade começou a mudar nesse território, então conhecido por São Paulo de Piratininga. O desenvolvimento do plantio e do comércio de café, primeiro no Vale do Paraíba e depois no Oeste Paulista, fez com que a capital de uma província pouco importante do então Império do Brasil começasse a se modernizar.
A riqueza proporcionada pelo café, que chegou a ser chamado por um período de “ouro verde”, permitiu que uma pequena elite conseguisse se estabelecer na cidade. E essa elite desejava se parecer com as elites europeias, não mais com as elites coloniais.
De repente, os casebres térreos dão lugar a sobrados e pequenos prédios comerciais. Lojas com produtos importados, vindos principalmente da Europa e dos Estados Unidos, começam a pipocar pelas ruas, que são alargadas e ganham calçamento. Assim ninguém mais suja os pés com tanta lama, né?
Muitas novidades foram chegando pelo porto de Santos e eram transportadas através de outra novidade, a ferrovia. As locomotivas a vapor, conhecidas como “maria fumaça”, traziam todo tipo de produtos até a capital. A Estação da Luz, uma das primeiras da cidade, inaugurada em meados do século XIX, passou por modificações até chegar ao prédio que vemos hoje, inaugurado em 1901.
A construção desse edifício é um bom exemplo da arquitetura utilizada na época, com muitas referências europeias. Mas esse fica lá na Praça da Luz, no Bom Retiro, voltemos aqui para o triângulo histórico… Além da Estação, podemos ver essa influência em outras construções do mesmo período, ao longo da rua Quinze de Novembro. Observe tranquilamente as fachadas, te espero.
A rua Quinze de Novembro começava no Largo da Sé, onde estava localizada a antiga Catedral da Sé, demolida em 1911, junto com a Igreja de São Pedro, para o alargamento da Praça e construção da atual Catedral Metropolitana de São Paulo ou Catedral da Sé. Dali a rua seguia até o Largo do Rosário, onde hoje se encontra a Praça Conselheiro Antônio Prado.
Naquele ponto se situava a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, mais tarde realocada para o Largo do Paiçandu, do outro lado do vale do Anhangabaú.
Suas memórias, por outro lado, permanecem inscritas no antigo largo, que hoje abriga uma escultura em homenagem a Zumbi dos Palmares.
Antes de assumir o nome atual, que faz referência à proclamação da República, a rua Quinze de Novembro já foi chamada de rua Manuel Paes Linhares, rua do Rosário e rua da Imperatriz, sempre espelhando transformações históricas, políticas e culturais da cidade e do país.
No Largo do Rosário já estiveram situadas também a parada de diligências e, posteriormente, a parada de bondes, elementos importantes para o desenvolvimento da cidade. Mas vamos virar à esquerda, antes de chegar ao Largo, nessa estreita rua que hoje se chama rua do Comércio, antigo Beco do Inferno.
Aqui é interessante observar o tamanho e a largura da rua, que ainda tem aspectos parecidos com as vias existentes antes da modernização da cidade.
Que tal se imaginar no passado, caminhando por essas ruas em meio a um grande fluxo de pessoas com roupas de outra época? Ou ainda se deparar com carroças, cavalos e outros animais?
Assim que chegar à esquina, vire à esquerda, na rua Álvares Penteado, antiga rua do Comércio. Enquanto caminha, que tal gravar um áudio descrevendo as imagens que vieram à sua mente nesse passeio pelo antigo Centro de São Paulo? Como no footing de antigamente, ande e observe o movimento nas frentes dos prédios, das cafeterias… é bem provável que alguém esteja te olhando também. Compartilhe com amigas e amigos, faça um convite para esse passeio!
Nos encontramos no CCBB!
Imagem de capa: Reprodução internet